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Poesia e vinho

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Artigo de Nemésio Barxa en Nós Diario, o passado 18 de junho, sobre uma pequena história de amor que une o poeta Manuel Maria à literatura e aos vinhos galegos

A relação da poesia e do vinho vem de muito atrás; não poderíamos dizer que foi primeiro pois os inícios de ambos são tanto longínquos que dificilmente obteríamos dados para sair de dúvidas; entendo que a poesia não começa com os primeiros poemas que conhecemos, poesia existe no mundo desde que um humano contempla a saída ou o pôr do sol, um arco da velha e tantas outras cousas com que a natureza regala nossos sentidos; e do vinho temos notícias abundosas de que já se cultivava a vide desde antes de Noé e os deuses, desde logo nunca posteriores à criação do universo, como Baco, Dioniso ou Osiris, o elevavam a categoria divina.

 

Tampouco me atrevo a dizer se a poesia é anterior á taberna. Tabernario foi um ilustre poeta galego, Aviles de Taramancos, de cujo oficio dizia Dario X.Cabana que “tal vez non haxa máis cumprido oficio / para que un poeta gañe o pan que come / ca despender um viño grato ao home / vendendo cun prudente beneficio” (sic). Na Pérsia cantava ao vinho e á taberna o poeta  Omar Khayyam, “nosso tesouro? o vinho / nosso palácio? A taberna”. Possivelmente vinho e taberna sejam indissociáveis e poesia e vinho sejam consubstanciais

Polo ano 1989, um grupo de amadores do vinho agrupámonos associativamente na Irmandade dos Vinhos Galegos (irmandadedosvinhosgalegos@gmail.com) para honrar, defender, promocionar e beber, beber, beber os bons e generosos vinhos galegos, os das cinco denominações de origem e também os mais locais, porque até aquela altura só se havia constituído uma confraria de vinho galego, reduzida á DO Rias Baixas e á caste alvarinha, denominada Capítulo do Albariño; em épocas já mais recentes, constituem-se outras confrarias, sempre locais. Considerávamos que o importante era a promoção e defensa de todos os vinhos, diferentes, que constituíam no seu conjunto a riqueza e tradição vinícola de Galiza, sem desbotar os importantíssimos vinhos galegos da DO O Bierzo, as castas tradicionais e viçosas como a treixadura, o alvarinho, a loureira, os cainhos (branco e tinto, ou longo) o torrontés, o lado e também os tintos mencia, brancelhao, espadeiro, bastardo, arauxa... Aquela Irmandade ficaria aberta a todos os amadores do vinho galego e, muito especialmente, aos poetas; consideramos que ficaria incompleta se não tinha seu guieiro, sua imagem, seu referente que, naturalmente seria um poeta e que lhe daríamos o nome do que historicamente havia sido líder da Irmandade Fusquelha, Roi Xordo, vencelhando deste jeito irmandade, poesia, vinho, rebeldia e liberdade. Sem demérito para ninguém, unanimemente recaiu a escolha no poeta do povo, o mais combativo, prolífico e de qualidade, galego e amante de Galiza, Manuel Maria, que tem um poema precisamente dedicado “Aos Viños Galegos”, a todos nossos vinhos galegos, importantes ou mais humildes, e assim canta ao vinho do Ribeiro “dourado como a chama...”, “aos viños antergos de Amandi e de Quiroga, com prestixio de hexámetros latinos, / Viños de Valdeorras, que em vos tendes / o vello ouro do Sil: soño e lenda...”, “...Viños sinxelos e humildes de Chantada...”, “...Finos caldos do Rosal, tan requintados...”, “...Viño Espadeiro antergo...”, “...Meu viño de Betanzos, viño neno...”...Viños galegos, lixeiros de beber/ fuxidios e febles como soños...” Na Galiza única, mai e amante, o poeta recorria indicativamente o conjunto do “viño da miña terra noble e vella / que me queima a alma co teu lume...”. Foi como se constituiu a nova Confraria de vinhos galegos levando á frente a irmandade, a galeguidade e a poesia.

Em 2004 falecia Manuel Maria, mas segue vivo no único Roi Xordo da Irmandade dos Vinhos Galegos. E na Casa de Hortas (Outeiro de Rei), sua casa familiar, hoje remodelada e convertida por empenho de Saleta e Alberte Ansede na sede da Fundación Manuel Maria de Estudos Galegos, conserva-se e exibe-se a capa, sombreiro. medalha e bengala próprias da sua condição de irmandinho. E produze-se o milagre de mostrar em dous andares o que era uma casa labrega, a imensidade do legado cultural galego e os recordos pessoais do poeta. Realizam-se atividades diversas a cotio e visita-la é compreender Galiza.